30 de jun. de 2008

O ceú que nos protege


Chuva e sol,
casamento de espanhol.
Sol e chuva,
casamento de viúva.


Hoje o céu já foi azul claro, cinza-escuro e cinza-azulado. A cor do momento é cinza-chumbo, mas o dia está só começando e tudo pode mudar.
A imagem que o fotógrafo alemão Herbert List fez em 1930 combina com o clima de hoje: se chover, estacione sua bicicleta e aprecie a paisagem.

(Silvana Tavano)

29 de jun. de 2008

Concorrência

Os livros carregam o mundo
...
Os livros me fazem sorrir
...
Sonho morar em uma livraria
Que bom seria!


O poema é da Paulinha, uma das minhas leitoras mais assíduas, que acaba de começar o seu próprio blog. Vai !

27 de jun. de 2008

Fim de ciclo

Último dia de aula. Meninas e meninos saem de dentro dos carros enfileirados ao longo das duas ruas que se cruzam na porta da escola. Sigo devagar pelo congestionamento, sem pressa de sair dali. Vejo meu filho no meio do grupinho que se forma na calçada, à espera do sinal do guarda, ajeitando a mochila nas costas. Olho com calma e carinho para essa cena que tenho visto tantas vezes nos últimos anos e, mais uma vez, tento reter cada pequeno detalhe na memória.
Quando ele finalmente atravessa a rua e cruza o portão da escola com os amigos, rindo, confiante sobre suas longas pernas finas de adolescente, tenho subitamente duas certezas: a de está tudo certo, e de que o tempo é uma ilusão.
Viro à esquerda e ainda arrisco olhar pelo espelho retrovisor uma última vez, mas ele não está mais lá. Volto pra minha vida com saudade do presente.

(Silvana Tavano)

26 de jun. de 2008

Siga a trilha

De Carlos Heitor Cony, falando sobre literatura infanto-juvenil: "A história que mais me marcou foi a de João e Maria. Sempre achei um espanto aquela história dos pedacinhos de pão marcando o caminho. Para mim a literatura é isso, pedacinhos de pão que levam as pessoas a algum lugar".

(Silvana Tavano)

25 de jun. de 2008

Mogli indiano

Na Folha de hoje: o indiano Ram Singh Munda mora na província de Orissa e foi preso por ter domesticado um filhote de urso. O motivo de Ram: o animal seria uma boa companhia para sua filha de seis anos, que acabou de perder a mãe. Ativistas estão pedindo a sua libertação, porque o animal nunca foi explorado para fins comerciais. E "Mascote", o urso, está no zoológico. Parece que tem se recusado a comer. E essa foto dos dois na bicicleta: dá pra acreditar?

(ST)

24 de jun. de 2008

De blog em blog (2)

Gosto de passear pelos blogs como se fosse uma turista curiosa que esqueceu o guia no hotel. Não são viagens planejadas: tudo começa num endereço conhecido de onde, atraída por um link que parece diferente ou esquisito ou intrigante, pulo pra outro blog e mais outro, e vou indo. Tem dia que a viagem fica chata, volto logo pra casa. Mas, muitas vezes, chego em lugares bacanas, onde perco a hora envolvida em textos interessantes e imagens inesperadas. Passei por muitos blogs até parar no da ilustradora espanhola Violeta Lópiz -- não sei refazer o trajeto que me levou até lá, mas encurto o caminho aqui pra quem quiser xeretar. Ela criou essa imagem para ilustrar uma carta de José Saramago, publicada no jornal El Mundo, em março de 2006. No texto, o escritor fala do pai, um homem que amava as árvores, e defende o uso de papel reciclado nos livros. Bonito, não?














(ST)

23 de jun. de 2008

Três não é demais

"Gostaria de viver trezentos anos para ler todos os livros que tenho em casa". A frase é de José Mindlin, mas acho que muita gente partilha desse mesmo desejo. Minha biblioteca é infinitamente menor --talvez eu desse conta de ler tudo em menos de dez anos... se não continuasse a comprar mais e mais livros. Acontece que, apesar de faltar tempo, sobra interesse. E pra dar conta da pilha que nunca abaixa, tenho tentado praticar dois bons hábitos: 1) abandonar a leitura (sem culpa!) quando o livro é chato, e 2) ler pelo menos dois livros ao mesmo tempo.
Confesso que ainda não consegui 100% de sucesso no primeiro ítem -- só desisto de vez se o livro é muito chato, indiscutivelmente chato. Em compensação, tenho achado cada vez mais gostoso alternar a leitura de um conto com uma HQ, um romance, um ensaio e livros infantis. Nos últimos dias, terminei "Em Busca do Amor Perdido", de Juva Batella, um texto infanto-juvenil que fala da escrita através da história de uma menina que quer ser escritora; li também "Frango com Ameixas", da mesma autora de "Persépolis", a iraniana Marjane Satrapi; e mais dois infantis deliciosos: "O Carteiro Chegou", de Janet e Allan Ahlberg, e "As Cartas de Ronroroso", de Hiawyn Oram e Sarah Warburton. Agora estou no meio de um conto de Paul Theroux.
Pra quem gosta de ler, essa variedade é muito atraente e saborosa, mais ou menos como uma caixa de bombons com chocolate branco, meio amargo, crocante, recheado ...Devoro os dois, livros e chocolates. E vocês?
(Silvana Tavano)

22 de jun. de 2008

Festival de animação



A animação "Tom Sweep" é do premiado Michael Dudok De Wit, o mesmo criador de curtas imperdíveis, como "The Monk and the Fish", "The Aroma of Tea" e "Father and Daughter", o meu preferido.



É triste e quanto mais assisto, mais gosto: que delicadeza, não acham?

(Silvana Tavano)

19 de jun. de 2008

Oba!

Livro novo sempre é motivo de alegria. O "Como Começa" foi pra gráfica esta semana e deve sair em agosto, com o selo Callis e ilustrações da Elma.

(Silvana Tavano)

18 de jun. de 2008

Uma grande leitora

Conheci a Paulinha na Livraria da Vila, meses atrás, numa tarde de sábado, dando uma entrevista para a revista Crescer. É bom deixar claro: era ela, Paula Farias, 10 anos, quem estava sendo entrevistada pela Cristiane Rogerio, sobre os livros --muitos-- que tinha lido. Naquele dia, fiquei radiante: a bruxa Creuza estava na estante dessa grande leitora!
Pra minha sorte, Paulinha virou leitora (também) do blog e vive deixando comentários bacanas por aqui. Um dia desses, pedi pra ela listar os livros de que mais gostou -- apesar de achar a tarefa "muito difícil", ela elegeu seus preferidos e explicou porquê:
"...'George e o Segredo do Universo', pois nunca aprendi tanto sobre o universo; a coleção 'Os mundos de Crestomanci', porque os livros têm muita magia, são criativos, com portais e bruxaria. São quatro volumes, estou esperando o quinto! 'Luna Clara e Apolo 11', pois é muito envolvente e bem escrito; 'Corda Bamba', da Lygia Bojunga', 'Coração de Tinta', uma história impressionante, com muito suspense... E gostei de várias séries: os treze volumes de 'Desventuras em Série', 'O Hobbit', 'Momo e o Senhor do Tempo', e também adorei a trilogia 'Fronteiras do Universo'. Beijos, Paula".

17 de jun. de 2008

Trios inseparáveis

















Minha lista de pares românticos cresceu bastante com as contribuições dadas pelos leitores do blog. Mas teve gente que se confundiu: afinal, o par da Clarabela é o Horácio ou o Pateta? Não há dúvida de que Olívia é a namorada do Popeye, mas não lembro de nenhuma história sem o Brutus por perto... Não cabe aqui bisbilhotar a intimidade dos personagens, mas por conta desses, acabei lembrando de outros trios famosos e inseparáveis: Mônica, Cebolinha e Cascão; Harry, Rony e Hermione; Luluzinha, Bolinha e Glorinha; Huguinho, Zezinho e Luizinho; os porquinhos Heitor, Prático e Horácio; as fadas Fauna, Flora e Primavera; as superpoderosas Lindinha, Docinho e Florzinha; os Três Ursos, os Irmãos Metralha, os Três Mosqueteiros, e, claro, os três Patetas: Curly, Larry e Moe. Quem mais?

(Silvana Tavano)

14 de jun. de 2008

Diários da bicicleta

"Eu escrevo como alguém que está fazendo um passeio, que acha o entorno muito bonito, mas nunca sabe se da próxima moita não surgirá um assassino. Eu nunca sei se vai dar certo, se vou encontrar um final, para quais conhecimentos ou mudanças a busca me conduzirá".

Ingo Schulze, escritor alemão, no Caderno 2 de hoje.

13 de jun. de 2008

Quadrinha do dia

Meu querido Santo Antonio
Feito de nó de pinho
Arranje-me um casamento
Com um moço bem bonitinho

Com que livro eu vou?

A idéia é simples e pra lá de simpática. Começou na cabeça da Cristiane Rogerio, que vive mergulhada em livros na redação da revista Crescer. Mas, como acontece com toda boa idéia, essa logo pulou pra cabeça de outras pessoas e inspirou uma deliciosa campanha, a do "Movimento Livro na Mão", que prega: todo dia leve um livro com você, mesmo que só tenha chance de abrí-lo em breves intervalos --naqueles minutinhos em que espera o metrô ou enquanto toma um cafezinho, depois do almoço. Talvez você só consiga ler um parágrafo mas, quem sabe, alguém do seu lado fique curioso, interessado no título ou atraído pela capa. No blog recém-inaugurado para divulgar a campanha, Cristiane explica: "Leve um livro nem que seja só para fazer companhia, mas anseie por conseqüências. Abra-o em público. Dê sorrisos. Suspiros. Ofereça, se alguém demonstrar interesse."
Daqui a pouco, vou para a editora com "Longe Daqui", o segundo volume da revista-livro Granta (com sorte, termino a leitura do conto de Paul Theroux, encantador!). E acho que vou levar também o "Contos de Ionesco Para Crianças", comprado anteontem. Os contos são curtinhos, quem sabe...
E vocês, com que livro vão sair hoje?

(Silvana Tavano)

12 de jun. de 2008

Eternos namorados




















Mickey e Minie, Fiona e Shrek, a aristogata Duquesa e o gatão Matinhos, Robin Hood e Lady Marion, Pato Donald e Margarida, A Bela e a Fera, Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela e seus respectivos Príncipes, A Dama e o Vagabundo, Jorge e Jane Jetson, Fred e Vilma Flinstone, Barney e Bety Rubble, Ariel e o Príncipe Eric, a Princesa e o Sapo.
Alguém lembra de mais algum casal?

(Silvana Tavano)

11 de jun. de 2008

Apoiado!

"Nós e os editores devíamos nos juntar para apresentar ao governo um plano para que, gradativamente, o mesmo valor de recursos que é destinado para a compra de livros didáticos seja investido na compra de literatura para as escolas do ensino fundamental. Seria bom para o mercado e para formar leitores".
Elisabeth Serra, secretária-geral da FNLIJ, entrevistada na edição especial da revista Discutindo Literatura.

10 de jun. de 2008

Duzentos

Paulo Leminski escreveu:

depois de muito meditar

resolvi editar
tudo o que o coração
me ditar

E assim venho fazendo há 200 posts.
Viva!

(Silvana Tavano)

9 de jun. de 2008

Modos de olhar

A imagem “http://www.newyorker.com/images/2008/06/09/p154/08060916spots.gif” contém erros e não pode ser exibida.Capturei esse gif do site do The New Yorker pensando em abrir a semana de um jeito diferente, com um miniconto "animado". Mas alguma coisa na cara do personagem, uma expressão meio mal humorada, inspirou um microconto rimado. Ficou assim:

Uni-duni-tê,
0 escolhido foi você:
abro logo o livro
e começo a ler.

Só que a leitura não engata,
porque a história é muito chata!
Viro a página, viro de lado
e não adianta, continuo entediado.

Decido no mesmo instante
que esse livro não volta pra estante:
de hoje em diante só quero ler
o que me dá prazer!

Depois de escrever, li o texto assistindo ao desenho pra conferir se tinha dado certo. Mas enquanto estava fazendo isso, observei a seqüência de movimentos de um outro jeito, o que me levou a escrever o segundo texto.

História de medo, leio encolhido,
Se é de amor, sonho no sofá, estendido.
Para certos enredos, preciso estar recolhido.

Mas quando o livro não me apaixona,
jogo fora sem remorso nem receio,
ou simplesmente paro no meio!

Porque bom é ficar de pernas pro ar
mergulhado em boa literatura:
essa, sim, é a grande aventura.

Gostei mais da segunda versão. E vocês?
(Silvana Tavano)

6 de jun. de 2008

A vida como ela é

Está na capa: "Uma história de minhoca". E é isso mesmo. No livro do cartunista americano Gary Larson, uma simpática família de minhocas --pai, mãe e filho--, conversa durante o jantar, dois ou três palmos abaixo da terra. Mas o assunto que rola na mesa não é nada leve, como avisa o prefácio assinado pelo famoso cientista Edward Wilson. "Larson descreve o que nós, biólogos, sempre soubemos: a natureza funciona na base do 'bobeou, dançou'... O que uma criatura consome, outra tem de proporcionar".
Como nas fábulas de La Fontaine, as minhocas-protagonistas de "Tem um Cabelo na Minha Terra" (Companhia das Letrinhas) falam. Mais que isso, ensinam que a natureza é selvagem, bem diferente da visão idealizada que encontramos em tantos livros, e que há muito mais guerra do que paz por trás do cantos dos pássaros, dos lagos azuis e das florestas grandiosas. Que o diga a Benedita, a heroína-vítima da história. Desenhos coloridíssimos e muito humor (negro, para alguns, inteligente, na minha opinião) mostram que a vida é mesmo dura. Como qualquer bom livro "infantil", este é indicado para leitores de todas as idades. Eu adorei.
(Silvana Tavano)

Hatuna Matata

5 de jun. de 2008

De blog em blog

A idéia era escrever sobre pelo menos um dos cinco (ótimos!) livros infantis que li nas duas últimas semanas. Mas aí começo a passear de um blog pra outro e, quando me dou conta, estou lendo que "vai ter festa no céu e os anjos vão vestir smokings, vestidos e sahariennes chiquérrimos" -- é assim a editora de moda (e amiga querida) Biti Averbach começa um texto-homanagem ao estilista Yves Saint-Laurent. Três posts depois, completamente esquecida do meu projeto inicial, clico num título pra lá de convidativo, Don't Touch My Moleskine, e descubro outro blog bacana, da jornalista Daniela Arrais. Foi lá que encontrei essas matrioshkas meio pops, lindas criações da ilustradora russa Irina Troitskaya. Passei um bom tempo apreciando as famosas bonecas que contêm outras bonecas: dá pra pensar em várias gerações de uma família --cada membro conduzindo a outro e encadeado a mais outro, como uma história que contém muitas outras. Ou como um blog que está dentro de outro e sempre leva a muitos outros.













Prometo falar sobre os livros amanhã!
(Silvana Tavano)

4 de jun. de 2008

Conversa pra boi dormir

-- Por que você tá andando pra lá e pra cá feito barata tonta?
-- Tô achando que vou virar o bode expiatório!
-- Xi! Quem botou minhocas na sua cabeça?
-- ...
-- Ihhhhhhhhhhhhh! O gato comeu sua língua, é?
-- ...
-- E aí? Vai continuar fazendo boca de siri?
-- Vou, e pode tirar seu cavalinho da chuva.
-- Tá bom. Então fica aí com esses grilos.
-- É que tô com uma pulga atrás da orelha...
-- Cuidado pra não confundir gato com lebre. Você não está achando que eu...
-- Acertou na mosca!
-- Macacos me mordam: não dá pra engolir esse sapo!
-- Seu... seu... seu.. amigo da onça!
-- E agora eu é que pago o pato?
-- Quer saber? Vá pentear macacos!

Deu vontade de brincar com as palavras depois de ler os des-disse-onários e histórias sem pé nem cabeça que a escritora Maria Amália Camargo inventa.

Silvana Tavano

3 de jun. de 2008

Na Flip e na França

Homenageado da próxima Flip, Machado de Assis também será lido fora do Brasil e por crianças -- o livro Conto de Escola, editado pela Cosac Naify, foi selecionado pelo Ministério de Educação e será adotado nas escolas francesas para alunos de oito a dez anos. Génial!

2 de jun. de 2008

Brincadeira de criança

"Fui um filho único muito solitário na infância. Meu escape era a imaginação. Tinha um quarto de brinquedos, onde vivia uma população de soldadinhos de chumbo que pertenciam a um país imaginário. Na minha cabeça, eu era o primeiro-ministro e os soldados eram cidadãos do país... Escrevia histórias para eles. Acho que foi aí que comecei com a coisa do ficcionista. Os personagens das minhas novelas não deixam de ser de novo meus soldadinhos de chumbo".
(João Emanuel Carneiro, autor de novelas, no Caderno 2 de hoje)