31 de mar. de 2012

Hoje

Um vento fresquinho apareceu pra espalhar a notícia: o outono está chegando.

A ilustração é do Sempé.

28 de mar. de 2012

Novidades à bolonhesa

Durante uma das palestras da Feira de Bolonha, o assunto foi a grande quantidade de lançamentos que, curiosamente, tratam do mesmo tema: o próprio livro. Numa espécie de celebração, apareceram muitos títulos homenageando o livro de papel, quase como um marco desse momento de transição para a proclamada era digital. Pra mim, a mais perfeita tradução dessa história é o poético "Se eu Fosse um Livro", dos portugueses José Jorge e André Letria, pai-escritor e filho-ilustrador, eles mesmos representando duas gerações e a ponte entre o passado e o futuro.

Em cada dupla, uma declaração de amor: "Se eu fosse um livro, não me importava de ir para uma ilha deserta com um leitor apaixonado."


Celebrado também foi o escritor holandês Guus Kuijer, que já havia conquistado o Hans Christian Andersen de 2010 e neste ano ficou com o Astrid Lindgren, o maior e mais importante prêmio para a literatura jovem e infantil. Nunca li nada dele e fiquei curiosa, mas só encontrei um título disponível por lá, na Libreria Per Ragazzi. A moça que me atendeu até comentou que sua vitória havia surpreendido todo mundo, já que a maior parte de seus títulos está fora de catálogo, pelo menos na Itália. Acabei comprando "Graffi Sul Tavolo", mas assim que cheguei de viagem descobri que "O Livro de Todas as Coisas", um dos mais-mais desse autor, já foi publicado aqui, pela Martins Fontes. Acho que vou começar por esse.



Como os livros não estavam à venda no estande da feira, só deu pra ficar namorando os títulos da argentina María Teresa Andruetto, a autora premiada com o Hans Christian Andersen de 2012. Dessa vez, economizei meus eurinhos e me dei bem: a Global já lança em abril "A Menina, o Coração e a Casa", com tradução de Marina Colasanti -- pra minha sorte, esse é justamente o que eu teria escolhido para colocar na mala.

26 de mar. de 2012

Álbum de viagem


Viajar é bom, e voltar com a cabeça cheia de histórias é melhor ainda. Nada melhor do que passar três dias zanzando pelos pavilhões da Feira de Bolonha, com tempo pra me perder entre livros e ilustrações de todos os lugares do mundo, e contando com a sorte de conhecer e poder conversar com autores que tanto admiro, de Suzy Lee a Lygia Bojunga, encontros especiais e coisas encantadoras que a gente só vê quando está usando óculos de turista. O dia era assim: anda pra cá, gira por lá, vê uma exposição, vai xeretar uma palestra e a pausa para o cappuccino era sempre no estande da Callis.      
Este ano, as imagens dos novos livros da Maria Eugenia decoraram o estande da Callis: na foto da Taline Schubach dá pra ver a carinha da Joana, ou melhor, da "Giovanna", convidando pra entrar e folhear os livros dos autores brasileiros.      

Eu, Claudia Souza e Maria Eugenia tietando os nossos "Come Comincia", "La Principessa che Salvava Principi" e "Macchia, La Ragazza Mal Disegnata".
Com o Daniel Kondo e o nosso "Pssssiu!"lá no fundo, posando todo pimpão com a faixa de ganhador do Prêmio João de Barro.

16 de mar. de 2012

Viagem (3)

É pra lá que eu vou, desta vez a bordo do Prêmio João-de-Barro conquistado pelo "Psssiu!", em parceria com o ilustrador Daniel Kondo. O livro deve sair aqui ainda neste semestre, mas já vai estar circulando na Feira de Bolonha, em inglês -- agora é torcer para que o "Shhhh!" também faça barulho no estande da Callis.
Até a volta!

15 de mar. de 2012

Viagem (2)

Querido Sonho, nem sei como agradecer sua visita e as boas novas que me contou na noite passada! É verdade que eu já tinha tomado umas providências importantes -- você sabe como fiquei orgulhosa depois de escrever aquele bilhete despachando o Medo sem a menor cerimônia. Mesmo assim, lá no fundo eu ainda não estava convencida de que ia dar certo. Sabe como é, o Medo explode quando as coisas ficam fora de controle, e tem mais: duvidei que ele fosse se intimidar só por causa de um bilhetinho à toa. Pra dizer a verdade, continuo achando que ele vai aparecer na hora H, é capaz até de ficar me esperando na fila de embarque, louco pra decolar! Pior pra ele. Vai murchar rapidinho quando descobrir que o voo está lotado. Dessa vez, vou com você.

13 de mar. de 2012

Viagem

Oi, Medo, tudo bem? Resolvi escrever porque, como você bem sabe, viajo daqui a alguns dias. Então, antes que você apareça com a mala prontinha pra ir comigo, achei melhor avisar: dessa vez não comprei passagem pra você. Não me leve a mal, mas é que ando meio cansada e seria legal aproveitar pra relaxar, quem sabe até dormir durante a viagem, coisa que nunca consegui voando com você -- a gente acaba conversando a noite inteira, né? Sei o quanto você curte um avião, aquela emoção da decolagem, cada minuto dos mais longos trajetos, com suas turbulências e barulhos inesperados. Já compartilhamos tantos momentos inesquecíveis! Memo assim, agora quero ir sozinha. Espero que entenda e não force a barra.
Prometo contar tudo na volta se você ainda estiver por aqui.

12 de mar. de 2012

Prazo

Tarde demais é quando o futuro chega atrasado.
Porque as coisas também têm hora pra acontecer.

9 de mar. de 2012

Conto de fadas

Era uma vez um historiador alemão chamado Franz que gostava de ouvir as histórias que os camponeses da sua região conheciam desde sempre e seguiam contando para seus filhos. Passou anos escutando, anotou tim-tim por tim-tim de cada aventura de tantos príncipes corajosos, bruxas terríveis e animais fantásticos até que, um dia, achou que estava na hora de compartilhar aquelas mil e uma histórias com todo mundo. Não deu conta de colocar tudo num único livro, então escreveu três, mas, para a sua decepção, nenhum deles fez muito sucesso na sua época -- Franz morreu em 1886 e sua pequena coleção ficou guardada num arquivo encantado da cidade de Regensburg. A reportagem publicada no Globo não menciona nada, mas acho que deve ter sido uma fada, provavelmente inconformada com tal descaso, que levou a curadora Oberpfalz Erika Eichenseer a descobrir esse tesouro. Resultado: os 500 contos de fadas que permaneceram inéditos durante mais de 150 anos começam a ser publicados a partir de agora. A primeira seleção ganhou o título de “Prinz Roßzwifl” ou "escaravelho” no dialeto local, um tipo de besouro que enterra seus ovos para protegê-los, do mesmo jeito que os textos de Franz preservaram histórias tão preciosas.

6 de mar. de 2012

Sorvete

Às vezes, a menina que eu fui acorda antes de mim, pula da cama, escolhe a roupa que vou vestir e passa o dia comigo, agitada, pedindo atenção e sorvete de chocolate.

2 de mar. de 2012

O zum-zum-zum das letras

"Dou a impressão de ser meio ranzinza porque meu zumbido muitas vezes soa com certa aspereza. Mas isso faz parte da minha natureza! Não tenho muitas chances de ser suave, e daí? Pra isso existem outras letras. Mesmo assim, confesso que, às vezes, me sinto um zé-ninguém, porque raramente tenho a honra de ser a primeira letra. Se os meus vizinhos mais próximos – especialmente o Xis e o Ipsilon -- não ficam azucrinados com isso, bom pra eles. Eu bem que gostaria de não ser o último da fila do senhor Alfabeto, mas o que posso fazer se a lista foi organizada desse modo? Também não acho razoável vir sempre no finzinho dos dicionários... Só consigo uma vaguinha lá na frente por azar. É dureza! Fico zangado à beça, mas o que me deixa zureta de verdade é ser lembrado sempre no diminutivo, pobrezinho de mim!
Já estou acostumado a ser espezinhado. Eu poderia me extasiar ao me ouvir em termos exóticos como exílio, exaustão, exagero e muitos outros exemplos. Mas, ai de quem me escrever em qualquer dessas palavras num exame -- só assim eu entro mesmo na história, e com a parte ruim, ou seja, uma nota zero!
Sou tão menosprezado que acabo zombando de mim mesmo, é um desastre! E desastre com Esse, claro, o que só aumenta a minha crise. Ô letrinha saliente! Não basta ser obrigatória em todos os plurais, será que ainda precisa infernizar a vida do Cê, da Cedilha e a minha? É desaforo, tenho certeza que o horroroso do Esse faz de propósito! E não adianta vir com essa lorota de que ele também sai no prejuízo! O caso é que o Esse rouba o meu lugar em casa, na mesa e em muitas coisas gostosas por causa de um monte de regras esquisitas. Fico zonzo tentando entender porque minha voz soa com outros grafemas... O Xis reclama com razão, mas comigo é um azougue: o Esse é tão ousado que entra até no que deveria ser o MEU desabafo! Em resumo, acho desprezível que o Esse pose de empresário se valendo do mesmo tom do meu zelador!
Por outro lado, também sou o Zê de zebra e entro em ação sempre que alguém pede o giz, joga xadrez ou conta até dez. É zás-trás: dou uma de Esse, me vingo e fico em paz! Não pensem que sou só azedo. De vez em quando sei me apresentar com polidez. Quem disse que o Zê não combina com maciez?"
...
A zanga do Zê no "Zum-zum-zum das Letras", livro novo saindo em breve, pela Moderna, com projeto gráfico e ilustrações de Guto Lacaz.