28 de out. de 2014

trecho

(…) Tenho doze anos e sempre dou um jeito de ficar doente ou inventar uma desculpa pra não participar das aulas de educação física. Mas hoje o professor não me dispensou e depois do aquecimento me convoca pra fazer parte de um dos times de vôlei. Não tenho chance de dizer que não quero jogar, minha boca trava, a voz desaparece pra sempre. Então ele me chama, do centro da quadra, apontando a posição que devo ocupar, e chama de novo porque não me mexo, na inútil esperança de que alguém se ofereça e me salve do desastre. Enquanto caminho em direção à quadra percebo um grupinho de meninas cochichando e rindo, na mesma hora tenho certeza: estão falando de mim. Olho para o chão e sigo, devagar, suando dentro do uniforme, desconfortável, desajustada, sempre eu. O jogo começa, a bola passa voando por cima da minha cabeça, uma vez, duas, e de novo, as meninas vão trocando passes como se eu não existisse, e de repente acontece: uma coisa por dentro, forte, quente, uma espécie de raiva que me lança pro alto, é só um impulso mas me deixo levar e subo, por um instante meus olhos ultrapassam o limite da rede, então estico o braço e vejo minha mão lá em cima, alcançando a bola antes das outras mãos. Quase sem querer marco um ponto, todo mundo comemora. Pela primeira vez, aplausos (…).

Aceitei com muita alegria o convite de Luis Brás pra participar de uma antologia recheada de autores bacanas, que deve sair em breve, com o selo da Sesi-SP Editora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre detestei as aulas de educação física... para uma adolescente acima do peso, abaixo da altura e míope era bullying na certa... dos colegas e do professor...